"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente" (Clarice Lispector).







sexta-feira, 10 de junho de 2011

Último devaneio

"Tomo o céu como testemunha de que se eu pudesse, na hora, retirar a mentira que me absolve e dizer a verdade que me acusa sem me humilhar de novo ao retratar-me, o faria de todo coração; contudo, a vergonha de pegar a mim mesmo em falta ainda me detém, e me arrependo com toda sinceridade de minha falta, sem no entanto ousar repará-la"

De: Os desvaneios do caminhante solitário, Jean-Jacques Rousseau, L&PM, p. 54.



Obs: Este BLOG não será mais atualizado.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Descoberta...

"Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva. Também me surpreende, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa".

Clarice Lispector, Perto do coração selvagem, Editora Rocco, p. 68

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Palavras

Queria ter o poder de ajuntar todos os meus pré-julgamentos que estão repousados nos corações das pessoas as quais os confidenciei. Tomaria um por um e os queimaria na fogueira da tolice. Constantemente me pego sobre o mesmo julgo, ao qual, impetuosamente, julguei. Minha pessoa diariamente se encontra entre o descanso do perfeito martelo e a mão do justo Juiz: miserável homem que sou...

Constatação

Marx estava correto ao afirmar que o capital regia, moldava e alterava (a conjugação correta seria: regi, molda e altera) todas as relações sociais. Tal constatação cai como uma luva em certos círculos de fraternidade, bem na verdade, em determinados indivíduos.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Passagem

Em morte, palavras ficam e contam histórias ininterruptas. Páginas e páginas... Retratos descritivos... Eternas orelhas de burro. Em uma vida exposta da palidez do anonimato; escrevinha-se no horizonte sobre a finda humanidade. Dia a dia... Não importa! Na alma lavrada, constroem-se edifícios, amontoam-se palavras diante da janela do ser - não do ter - destestável ostentação. Nesta engenhoca existêncial, busca-se freneticamente o brilho dos olhos infanto, aquele que, outrora, sob o pó, piscavam inocentemente neste incrível sonho chamado: vida.

terça-feira, 15 de março de 2011

Tsunami: com a palavra, Jesus

"E Cuidais vós que esses japoneses foram mais pecadores do que todos os cristãos, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles milhares, sobre os quais outro tsunami (Indonésia) os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em toda a terra? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis".

(Lc. 13: 1-5 - Contextualizado).

sexta-feira, 4 de março de 2011

O meu, o teu, o nosso... Deus

Levo comigo (particularidade) a nítida impressão que a eternidade, na revelação definitiva de Deus e do seu Reino, trará para nós (além da alegria da salvação) um misto de vergonha e arrependimento. Vergonha, pois enquanto ainda em terra, brincávamos e brigávamos na busca da melhor definição de Deus. Criava-mos linhas e mais linhas na esperança de sermos os mais corretos e propriamente ditos, os mais fiéis. Levantava-mos comissões doutrinárias na esperança de banir qualquer forma de Deus estranha a nossa fé. O cruel será nos ver diante de Deus e lembrar-mos da impossibilidade de desvincular-se de forma completa de tais posições, pois todas as instituições ao qual estávamos inseridos e que, haviam sido criadas pelo homem (sob alegação de divina revelação), possuíam seus próprios preconceitos acerca do divino. Ou seja, não havia a mínima possibilidade de vivermos de forma excludente a alguma forma de identidade de Deus preconcebida; conceituada segundo os padrões humanos.

Definitivamente, será na eternidade que viveremos o que bem escreveu Andrés Torres Queiruga: “Ao falar de Deus, sempre pecaremos, por dizer menos do que devíamos”; ou mesmo: mais do que sabíamos ou que nos foi revelado. É neste contexto revelatório divino que atinaremos para a nossa maior vergonha: que passamos a grande parte de nossas míseras vidas defendendo, avidamente e inflexivelmente, conceitos, linhas, filosofias, e teologias, ditas: tratados acerca de Deus – no fundo não levamos a sério o seu verdadeiro significado. Raras foram às vezes que rascunhamos acerca de Deus e a simplicidade de Sua vontade - troca-se rascunhamos por vivemos.

Sob esta ótica gloriosa e vexatória, vejo a Graça operando, na eternidade (suponho, não afirmo), a “última” gotícula de convencimento e arrependimento. Estaremos diante do eterno, que dantes, tentávamos desenhá-lo sob encíclicas, retratos, comissões e concílios. Nossas construções teológicas desmoronarão diante de Sua revelação estrondosa e transcendente, até então. Nossos preconceitos estarão desnudos perante nossos próprios olhos, trazendo consigo o temor de termos sidos demasiadamente tão diferentes de nosso criador e indiferentes diante de nossos limites e prepotência. Mesmo em Cristo, nos veremos insignificantes e inconstantes diante de Deus. Lembraremos que defendemos e matamos em nome da religião, algo tão distinto diante do evento presenciado. Assim que compreendo (rascunho) a salvação mediante a Graça. Sempre fora ela e sempre será ela.

O sacrifício de Cristo possui proporções tão extremas no campo espiritual salvífico que não possuímos qualquer controle sobre tal: o preço foi alto. Cristo é a nossa Graça e nossa expiação. Suponho que Ele estará ao nosso lado no grande dia, dizendo: "Pai! Perdoa-os, pois eles não sabiam o que estavam fazendo, falando e escrevendo”.

terça-feira, 1 de março de 2011

Inquietante

Verdadeiramente a Graça é algo que está fora do nosso campo de compreensão palatável, investigável. Incansavelmente ela persiste em nos chamar, pelo nome, ao arrependimento, seja ele qual for: mentiroso, caluniador, traiçoeiro, mesquinho, inflexível, cara de pau, soberbo, inconveniente, julgador, invejoso, ciumento, ditador... Intocavelmente ela ergue-se diante dos julgamentos alheios a uma verdade interna que somente Cristo conhece e reconhece: “O reino de Deus está dentro de vós!”.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Permanecer

Preservar a alma em vida
da morte incontida e sempre temida?
Linhas tênues palpitam um coração em dias, anos, histórias;
segue os pontos e as vírgulas.

Neste palco desnudo, artistas
sucumbem a cena cortada: Eternize o espetáculo
em caminhos pintados e traçados.
Pagine-os em uma, duas, três...

Uma pena reclama no recôndito:
- O tinteiro aspergirá das entranhas uma personalidade.
A vida em peregrinação estocada em arte:
O prefácio está no aqui, no hoje, no agora.

Neste berço eterno, deleita-te: tua voz ecoará!
Que a finitude lavrada deste coração,
alumie de saudades a graça. Assim fora
o Quintana, a Meirelles, a Adélia...

A vida escalpelada, palatável, folheada
e apreciada em vitrines literárias.
Sob letras em palavras,
em magnum opus... A alma perene.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Revendo os comentários (Lições Bíblicas).

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Da comida sacrificada a ídolos: A carta circular dos apóstolos é bem clara: “Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos” (At. 15: 29). Terá essa recomendação alguma serventia para nós hoje? Além das festas juninas e dos doces distribuídos no dia de Cosme e Damião, há muitos banquetes consagrados aos deuses das riquezas, às divindades do poder corrupto e corruptor, a aos demônios da permissividade moral e do relativismo ético. Outrossim, cuidado com os restaurantes que, logo de entrada, expõem sua divindade como se fora mero folclore. Não é folclore; é demônio mesmo.

Citação retirada da: Lições Bíblicas, 1º trimestre 2011, CPAD, lição 11, p. 81.
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Custo em acreditar que um comentário como o citado acima ainda perdura no seio teológico pentecostal - diga-se acadêmico. Obviamente que existe um planejamento referente aos trimestres anuais antecipadamente. Contudo, como deixar que algo tão arcaico, no sentido explicativo de conceito de Evangelho, possa ser editado. Fiquei ainda mais admirado em analisar a mesma lição e constatar que foram gastas cerca de quinze palavras para explanar sobre o conceito de Graça. Assunto objetivamente e subversivamente central dentro do concílio de Jerusalém.

Sinto-me menosprezado por tal comentário e sinto que o povo continua sendo, seja, visivelmente ou invisivelmente (aposto neste caso!), controlado de forma infantil. Um comentário como este nem mesmo leva em consideração outras citações concernente ao mesmo assunto. Simplesmente ignoram passagem como:

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada. (I Tm. 4: 1 – 5 – Grifo meu)

Há um grande paradoxo dentro deste tema. O pentecostalismo critica avidamente o pseudo-pentecostalismo (neo-pentecostalismo) devido suas liturgias estranhas à verdade de Evangelho como, o copo de água com oração. Contudo, ensinamos que um alimento consagrado aos outros ídolos (demônios) que, segundo Paulo, para nós “o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um”, poderá afetar nossa espiritualidade (comunhão), moral (permissividade moral: citado pelo autor do comentário) e obscurecer nossa ética cristã (relatisvismo ético: citado pelo autor do comentário). Paulo ainda afirma: "Ora a comida não nos faz agradáveis a Deus, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta". E Ele continua: “Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele. (I Co. 8: 1 – 13 – Grifo meu). Apaga-se de forma consciente os ensinamentos do próprio Cristo, nosso Senhor que afirmou: "Não há nada fora do homen que, nele entrando, possa torná-lo impuro" (Mc. 7: 15 - NVI - Grifo meu). Por favor, a expressão, "não há nada", não se trata de uma hipérbole, a sua literalidade é vital dentro deste contexto. Até quando esconderemos do povo que "o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (Rm. 14: 17 - Grifo meu).

O pentecostalismo precisa de mais clareza do Evangelho concernente a liberdade concedida pela Graça. Não me reporto a liberdade de sentido pejorativo, mas sim a verdadeira liberdade proveniente da salvação; do Espírito Santo que tanto enfatizamos. Paulo fora um assíduo defensor da graça, contudo, o que fora comentado na lição reserva-se a isto:
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Da salvação pela graça: Deixam os apóstolos bem patente o seu apoio ao evangelho que Paulo proclamava aos gentios: a salvação pela graça (At. 15: 1).

Citação retirado da: Lições Bíblicas, 1º trimestre 2011, CPAD, lição 11, p. 81.
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O sistema predominante no meio pentecostal, depressivamente, é farisaico. É externo e discriminador. O bom senso é menosprezado e o equilíbrio é tido como perigoso. Com isto, duvida-se do poder transformador do Evangelho e da Graça salvadora de Cristo. O reflexo é visto claramente nestes comentários. Seria uma grande oportunidade às lições Bíblicas ensinarem o amor e o equilíbrio e a não discriminação como Paulo bem ensina em seus escritos. O povo, obviamente, destituídos de materiais teológicos e amordaçados sob pena de rebeldia, cala e consente, inocentemente, com tamanho absurdo.

Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados. (Tito 1:15)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Coerência

Coerência que lhe quero entender, absolver, viver: fatos e ideais.

Se devo fazer, porque não faço? Se está errado, porque não reajo? Se está podre, porque não enterro?

Tímido pela morbidez de minha covardia estonteante, espanto a coerência que me rodeia e escondo-me sobre o monte da argumentação. Que falsa segurança, um castelo de areia em frente a um mar revolto.

Silêncio...

Escute-me agora: há uma única coerência em meio a várias argumentações. Morrendo a coerência, morre a alma; morrendo a argumentação, nascem-se outras.

Não há limite para as argumentações!

A coerência... Sim, a coerência.

Por vezes a encontro sob os montes de lixo das argumentações que me acomodam. Horas chamo estes montes de negligência, mas quem se importa. Enquanto ela permanecer lá embaixo e enquanto minhas argumentações forem convincentes, sigo os passos... Ainda ouso em recitar: “Only God can judge me!”.

A coerência enobrece o coração e dignifica a vida.

É isto!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mistério

A vida...
Aprendida no decorrer
da história – na brevidade do suspiro.
Na longa caminhada,
não há fim para as perguntas.
A resposta cala a ânsia da
busca, aprisiona os passos,
decepa as assas;
encobre os medos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Poderes podres (J. B Libânio)

Um poder tanto mais se corromperá quanto mais poderoso se considerar e distante estiver de qualquer olhar. O segredo maior da corrupção do poder reside na sua arrogância. Lord Acton forjou célebre axioma no mundo político: "Todo poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente". Se todo poder se adultera, o poder fechado nele mesmo, manipulando os servidores, ocultando ao máximo as ações sob diferentes véus, perverte-se ao extremo.

Homens, vestidos a rigor, assentados em altos tribunais ou nas Câmaras e Senado, escondem manobras venais sob a aparente solenidade distante em face das pessoas. Os tronos ocultam muito crime, sem-vergonhices ilimitadas. Jesus, na simplicidade de camponês, ensinava: "Todo o que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas" (Jo 3, 20). As trevas dos lugares escondidos favorecem os escândalos.

O escondimento, a camuflagem, a inacessibilidade alimentam o agir inescrupuloso dos poderosos. Mas a origem da podridão encontra-se alhures. A experiência humana e os ensinamentos de Jesus nos levam a compreendê-la. O poder possui dinâmica interna que só pessoas de alto nível ético e de forte convicção não se deixam arrastar. Em que consiste tal força avassaladora? À medida que alguém ascende ao poder, percebe-se posto em situação de altura e de maior possibilidade de dispor das coisas e das pessoas. No alto, os de baixo bajulam-no, cobrem-no de elogios, seduzem-no com propostas lisonjeiras. E, assim inflado, crê-se importante e, aos poucos, acima de toda suspeita. Pequeno passo para cometer as maiores arbitrariedades. E, se surgem adversários, pessoas que lhe apontam o dedo, com o poder de que dispõem, alijam-nas facilmente do caminho. Então, não resta nada mais que a própria vontade.

O ser humano entregue unicamente a si mesmo, sem as barreiras da cultura e do outro, dificilmente resiste às tentações de desmandos que o satisfazem. Por isso, quanto maior o poder, quanto mais alta a posição, maiores os riscos das seduções, das armadilhas. Ninguém detém o poderoso e ele maneja os outros. A Escritura define o demônio precisamente como essa entidade que a ninguém se submete -não servirei, exclama ele em face de Deus- e que tudo possui. Tenta a Jesus dizendo: "Tudo te darei, se prostrado, me adorares" (Mt 4, 9). Imaginem alguém alcandorado no píncaro de uma instituição e que se volte para seus súditos e diga simplesmente: "Não servirei a ninguém e tudo vos darei, se me adorardes". Ao ser adorado, esquece a dimensão humana e se sobrepõe a tudo e a todos. Santo Inácio acrescenta, com certa ironia, depois disso vêm todos os outros vícios. Jesus apresenta uma única possibilidade de saída: se o poder se tornar serviço. Então as duas tentações desaparecem.