"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente" (Clarice Lispector).







terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cruz

Esta sim, tornou-se a propiciação dos desejos desenfreados dos homens. A luz para os que buscam a felicidade material. A resenha dos sonhos ufanistas, daqueles que ousam em sonhar alto, muito alto. O emblema da felicidade autêntica, da felicidade instantânea. O escudo que dilacera os inimigos. O amuleto das finanças seguras. A proteção dos pescoços desavisados. O esconderijo dos pecados dos pecadores não arrependidos.

Das várias formas que se deu a ela, a sua essência se perdeu. A cruz está alegórica e já não possui literalidade. Para onde foi o seu escândalo? O cálice tão pesado a Jesus, tornou-se símbolo benévolo de uma sociedade triunfalista que determina sobre as chagas do Cristo crucificado as suas bênçãos. Esta cruz antes tão odiada e rejeitada, agora, tão desejada e idolatrada. Constantinos ainda emergem da imortal religiosidade bradando: “Por este sinal venceremos! A tudo e a todos”. Não há mais quem se envergonhe, não há quem seja perseguido. A mensagem do calvário fora dilacerada pelo pragmatismo gospel e pela excentricidade da sociedade “cristã” ante ao Evangelho.

Recebe-se Cristo, porém, ignora-se a cruz da ignomínia. Ouvem-se gritos: “Queremos Cristo!”; porém, ouvem-se lamúrias: “Mas, não a Sua cruz!”. Logo, ouve-se uma solução funesta: “Aqui existe um Cristo sem cruz!”.

Em meio ao desprezo do discipulado da cruz de Cristo. Em meio à tentação de abandoná-la, surge um grito da reforma, um eco de suas teses[1], sobre uma geração que desconhece o valor e peso do discipulado da cruz. “Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz!”[2]; “Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz!”[3].

—————————————————————-
[1] As 95 teses de Lutero na Reforma Protestante.
[2] Tese nº 92.
[3] Tese nº 93.

2 comentários:

Márcio Batista disse...

Sem dúvida, acredito que a cruz é a única oportunidade para a nossa salvação, só que temos que tomar cada dia e seguir os passos de Jesus, o que muitos não fazem. Concordo, querem o Cristo da cruz, mas não a cruz de Cristo. Em outras palavras, viver conforme seus próprios desejos e vontades e não conforme a vontade dEle ou que Ele nos oferece! Muito bom o artigo, vou postar nos websites da ADJoinville.org.br e na UMADESCP.com.br

Alice disse...

Ola... obrigada pela visita... e que bom, pois por ela vim aqui para ler-te... e confesso, acabas de inspirar-me em um novo estudo sobre a Cruz...minhas ovelhinhas agradeçem !

super abraço

ps. Sua foto com a esposa e filhos está linda e inspiradora !