"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente" (Clarice Lispector).







sexta-feira, 4 de março de 2011

O meu, o teu, o nosso... Deus

Levo comigo (particularidade) a nítida impressão que a eternidade, na revelação definitiva de Deus e do seu Reino, trará para nós (além da alegria da salvação) um misto de vergonha e arrependimento. Vergonha, pois enquanto ainda em terra, brincávamos e brigávamos na busca da melhor definição de Deus. Criava-mos linhas e mais linhas na esperança de sermos os mais corretos e propriamente ditos, os mais fiéis. Levantava-mos comissões doutrinárias na esperança de banir qualquer forma de Deus estranha a nossa fé. O cruel será nos ver diante de Deus e lembrar-mos da impossibilidade de desvincular-se de forma completa de tais posições, pois todas as instituições ao qual estávamos inseridos e que, haviam sido criadas pelo homem (sob alegação de divina revelação), possuíam seus próprios preconceitos acerca do divino. Ou seja, não havia a mínima possibilidade de vivermos de forma excludente a alguma forma de identidade de Deus preconcebida; conceituada segundo os padrões humanos.

Definitivamente, será na eternidade que viveremos o que bem escreveu Andrés Torres Queiruga: “Ao falar de Deus, sempre pecaremos, por dizer menos do que devíamos”; ou mesmo: mais do que sabíamos ou que nos foi revelado. É neste contexto revelatório divino que atinaremos para a nossa maior vergonha: que passamos a grande parte de nossas míseras vidas defendendo, avidamente e inflexivelmente, conceitos, linhas, filosofias, e teologias, ditas: tratados acerca de Deus – no fundo não levamos a sério o seu verdadeiro significado. Raras foram às vezes que rascunhamos acerca de Deus e a simplicidade de Sua vontade - troca-se rascunhamos por vivemos.

Sob esta ótica gloriosa e vexatória, vejo a Graça operando, na eternidade (suponho, não afirmo), a “última” gotícula de convencimento e arrependimento. Estaremos diante do eterno, que dantes, tentávamos desenhá-lo sob encíclicas, retratos, comissões e concílios. Nossas construções teológicas desmoronarão diante de Sua revelação estrondosa e transcendente, até então. Nossos preconceitos estarão desnudos perante nossos próprios olhos, trazendo consigo o temor de termos sidos demasiadamente tão diferentes de nosso criador e indiferentes diante de nossos limites e prepotência. Mesmo em Cristo, nos veremos insignificantes e inconstantes diante de Deus. Lembraremos que defendemos e matamos em nome da religião, algo tão distinto diante do evento presenciado. Assim que compreendo (rascunho) a salvação mediante a Graça. Sempre fora ela e sempre será ela.

O sacrifício de Cristo possui proporções tão extremas no campo espiritual salvífico que não possuímos qualquer controle sobre tal: o preço foi alto. Cristo é a nossa Graça e nossa expiação. Suponho que Ele estará ao nosso lado no grande dia, dizendo: "Pai! Perdoa-os, pois eles não sabiam o que estavam fazendo, falando e escrevendo”.

Um comentário:

Mario Gonçalves disse...

Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...